quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A PESQUISADORA DA ESPERANÇA



Meu povo, hoje o post é daqueles que vocês precisam se ajeitar na cadeira, mandar os “minino” pra casa da avó pedir um tempo pro seu chefe, desligar o fogo do feijão e se concentrarem na leitura.

Trago uma entrevista com uma das mais respeitadas estudiosas de células-tronco do Brasil e símbolo máximo da conquista da liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no nosso país, a professora Livre Docente e chefe do Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociência da USP (Universidade de São Paulo), Lygia da Veiga Pereira.

A professora Lygia é tão engajada com a causa da “Matrix” de quem tem alguma deficiência que respondeu às minhas perguntas de bate e pronto, sem trololó, sem nheco-nheco, sem blablabla (Tá, eu admito que tô dando butinada em alguns ).

Para mim, é uma honra tê-la aqui dividindo seu conhecimento respeitado no mundo todo e explicando fatos que perturbam muitos dos seguidores e admiradores desse blog.

Saibam, então, um pouco sobre mitos, sobre verdades, sobre o futuro e sobre esperanças guardadas nessas minúsculas células que caminham a passos largos para mudar radicalmente a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo.

Blog - Quando a gente vai poder levar nossos cavalos (cadeiras de rodas) pro lixão e deixar os donos dos “ferro véio” ricos?

Profa Lygia V. Pereira - Estamos vivendo um momento histórico com a aprovação do primeiro teste clínico com células-tronco embrionárias em seres-humanos - e justamente em lesão de medula.

Esse primeiro teste será importantíssimo para sabermos se pelo menos essas células são seguras. (repare que estou evitando a pergunta!)

Enfim, esse é um passo importantíssimo para essa promessa terapêutica virar realidade, mas ainda leva tempo. Quanto? Cinco? Dez anos?

Vou fazer uma comparação com transplante de coração: o primeiro em humanos foi feito no final de 1967. Um ano depois já haviam sido feitos mais de cem transplantes de coração no mundo... Com 80% de mortalidade.

Para tudo, volta-se ao laboratório, descobre-se que o problema é a rejeição. No início da década de 1980 são desenvolvidos os imunosupressores, de forma que até 2007 mais de 75.000 transplantes de coração já foram feitos no mundo todo.

Blog - Já li que lá na China tem médico que aplica célula-tronco de dia e, há quem jure, que o "malacabado" (deficiente físico) mexe a ponta do dedo à noite. Até que ponto esses progressos são verdadeiros?

Lygia - É uma pena a forma de trabalhar desse médico... Como ele não publica seus resultados nem os apresenta de forma adequada para seus pares, não podemos avaliar a validade dos mesmos...

A ciência séria é caracterizada por uma absoluta transparência e o julgamento pelos pares. Sempre desconfio de quem descobre uma cura milagrosa e decide esconder seus resultados em vez de publicá-los e ganhar um prêmio Nobel...

Blog- Será que os tratamentos com célula-tronco vão evoluir a tal ponto que, quando alguém sofrer um acidente, lascar a medula, vai chegar lá um médico com um injeção e evitar que a pessoa tenha uma lesão grave?

Lygia - É essa a idéia, e é para isso que todos trabalham.

Blog - Para que tipos de deficiência ou doença as células-tronco, de fato, estão conseguindo reverter ou mudar quadros?
Lygia - O único procedimento médico com células-tronco já consagrado pela medicina ainda é o transplante de medula óssea para as doenças do sangue (leucemias, etc).

No mais, tudo ainda é experimental. Em algumas doenças, ainda estamos nos modelos animais (parkinson, distrofia muscular); em outras, já começamos testes em seres-humanos (derrame; lesão de medula, doença hepática; doenças auto-imunes: esclerose múltipla, diabetes autoimune, lupus). Em cardiologia, os primeiros testes em seres-humanos foram tão positivos que justificaram ume estudo com 1.200 pacientes (em andamento) para verificarmos a eficácia. Mas nenhum médico sério pode receitar célula-tronco para nenhuma dessas doenças ainda.

Blog - Agora que já é possível usar células-tronco embrionárias em pesquisas no Brasil, o que mais a gente precisa para caminhar mais rápido?
Lygia - O Governo Federal anunciou o investimento de mais R$ 21 milhões em pesquisas com células-tronco, e a criação da Rede Nacional de Terapia Celular, com os objetivos de estruturar o esforço nacional de pesquisa em terapia celular, ampliar a geração de conhecimento por meio de uma maior interação entre a comunidade científica, e qualificar novos profissionais. Essa rede deve criar uma grande sinergia entre os grupos brasileiros, acelerando o ritmo das pesquisas com células-tronco no país.

Blog - Muita gente tá esperando sair andando, sair vendo, sair falando depois do tratamento. Mas as evoluções podem ser menores, mas muito importantes, não é mesmo?
Lygia - Sem dúvida a expectativa é o milagre das céluals-tronco. Porém, elas podem não curar totalmente os pacientes, mas promover algum tipo de melhora - e isso já valerá. Por exemplo, nos lesionados de medula, se as células-tronco promoverem pelo menos o controle urinário, isso representará uma grande melhora de qualidade de vida dos pacientes.

Escrito por Jairo Marques às 00h12

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