terça-feira, 14 de julho de 2009

MELHOR IDADE



Morando sozinha há pelo menos quatro anos, ela resolve tudo, dentro e fora de casa: arruma as coisas, cozinha, lava, faz compras, paga suas contas e ainda arruma tempo para sair com as amigas, viajar e curtir uma de suas paixões, que é a fotografia. Com um perfil que se encaixa no de muitas mulheres independentes de hoje em dia, a personagem em questão tem inacreditáveis 85 anos. Viúva, Dona Catharina Medeiros mora sozinha há pelo menos quatro anos, na mesma casa onde vive desde 1945. Mãe de três filhos, avó de três netos e uma bisneta, ela conta que sua casa sempre foi cheia. "Tinha umas vinte pessoas aqui em casa. Depois uns foram casando, outros morreram e a última que dividiu a casa comigo foi a minha neta, que ficou aqui até os 16 anos", diz ela. Perguntada sobre o lado bom e o ruim de morar sozinha e ser considerada uma idosa independente, Dona Catharina revela que se sente feliz, realizada e destaca a liberdade de fazer o que quer e do jeito que quer como o melhor lado: "Vou para onde quero, quando quero... e não sei o que é solidão. Pra mim, não existe lado ruim".Ela conta que uma das filhas a convida sempre para morar com ela, mas recusa com o argumento de incompatibilidade de gênios: "Gosto de viajar, de receber as pessoas. E ela não gosta de nada disso. Prefiro estar em minha casa", afirma. Segredo Enquanto nos mostra algumas das inúmeras fotos que ela faz questão de tirar em todas as viagens que faz pelo clube da terceira idade que freqüenta, ela fala com especial carinho sobre a excursão que participou no ano passado, pela Argentina. Continuando a conversa, Dona Catharina diz que não tem nenhum problema de saúde nem se preocupa com morte ou doença. "Não como de tudo porque respeito a minha idade. Evito doces e comidas carregadas, só isso", diz a idosa, revelando o segredinho dos bem vividos 85 anos. Agilidade Na casa dos 60, Antônio Araújo, ou "Seu Antônio", é conhecido pela agilidade em seu local de trabalho, onde sobe e desce diariamente vários lances de escada, correndo com documentos de um setor para outro e lidando com o público sempre com um sorriso bem humorado e disposição de dar inveja. Aposentado, há cerca de dois anos ele retornou ao serviço público como prestador de serviço. "Logo que me aposentei, passei cerca de seis anos sem trabalhar, mas não me adaptei a ficar somente em casa. Quando recebi o convite achei ótimo, porque já estava entediado com a aposentadoria", conta ele. Antônio divide a casa com a esposa, dois filhos solteiros e duas irmãs, uma de 70 e outra de 81 anos. "Também sou eu que cuido da parte financeira da casa", conta orgulhoso. Assim como Dona Catharina e Seu Antônio, é cada vez maior o número de idosos que assumem as rédeas da própria vida, fazendo questão de manter sua independência, seja morando sozinho, voltando a trabalhar ou estudar, freqüentando clubes e academias de ginástica e contribuindo para acabar com o preconceito que ainda ronda a terceira idade.Aumento da longevidade deve diminuir preconceito. O Brasil já possui a sexta maior população idosa do mundo - cerca de 18 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou quase 10% do total de brasileiros - número que deve dobrar em pouco mais de dez anos e chegar a 64 milhões em 2050, de acordo com projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo especialistas, essa mudança no quadro populacional deve provocar também mudanças profundas de comportamento no País. O aumento da expectativa de vida vem reforçar um antigo ditado: cada um colhe aquilo que planta. A idéia permeia a visão do economista e sociólogo Eduardo Giannetti, de São Paulo. Segundo ele, as escolhas feitas hoje são decisivas para definir a qualidade de vida futura, em todos os setores. E isso já está sendo observado pelas gerações atuais: "A longevidade nos leva a refletir sobre a juventude. É nesta a etapa da vida que fazemos escolhas que irão ter impacto sobre as décadas seguintes, até o final da vida", argumenta. Giannetti prevê ainda uma mudança positiva com o aumento da longevidade: a diminuição do preconceito contra idosos. "A supervalorização da juventude vai ficar cada vez mais anacrônica porque as pessoas perceberão que deverão passar a maior parte de suas vidas como adultos ou idosos", finaliza.
por Vanessa Alencar

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