terça-feira, 7 de julho de 2009

CARTEIRA DE MOTORISTA

Gente, o ano tá passando rápido, né não?* E por falar em ano, no começo de 2008 tive que tentar colocar em prática um objetivo, dentre tantos em minha vida, a de viver aquela maratona deliciosa e básica de tentar renovar a minha carteira de motorista, lógico que agora na condição de portador de deficiência. Tá certo que minha tarefa não é das mais fáceis, mas não custava nada tentar.
Galera, quase todos os deficientes físicos podem dirigir, sabiam? “Verdadchi”! A tecnologia ajuda até aqueles “tetrões”, aqueles “mamulengões” que conseguem mexer apenas um pouco os braços e o pescoço a conduzir uma charanga, bom pelo menos em alguns estados. E dirigir dá uma independência danada pra gente. Eu sei que um carro no Brasil ainda é muito caro e que as adaptações, em alguns casos, custam quase a metade do valor do próprio veículo, mas a gente tem um salto na qualidade de vida conduzindo aquele fuscão preto, aquela Brasília verde, aquele Fiat 147. Prometo que em breve conto um pouco sobre comprar um veículo, sobre como são as adaptações, sobre isenções de impostos, mas deixa eu voltar para a CNH.
Primeiro, você paga uma taxa no DETRAN e agenda uma “perícia médica” para “verificar” a condição do camarada e quais adaptações serão necessárias para se obter o “êxito’ na solicitação. Caso o caboclo “passe” na perícia é necessário se matricular numa autoescola que, segundo a legislação,deve ser acessível para os portadores de deficiência.. Beleza, toca pra própria autoescola (agora é tudujunto, mesmo, viu?) , após morrer em outra taxa. Como o pão de pobre cai sempre com a manteiga pra baixo, nem o DETRAN nem as autoescolas estão preparados para a “acessibilidade”. Salas apertadas, sem banheiro adaptado, instrumentos e métodos de avaliação ultrapassados, carros não adaptados e por aí vai.......
“Senta aqui na recepção que logo o médico te chama”, disse a mocinha. (eu juro que já estava sentado, juro!). Chovia lá fora !
Quis beber uma aguinha para me recuperar de tantas emoções. O bebedouro era alto e ficava num canto que a minha cadeira quase que num chegava. Beber água pra quê com tanta chuva lá fora, né? A médica era uma simpatia. Talvez ela nem lembrasse de quando deu um sorriso. Como eu sou muito sério, a gente quase brigou.
“Vê se você consegue colocar o queixo aqui nesse instrumento pra eu examinar sua vista”, apontou a médica pra um troço que nem sei descrever como era.
“Num dá, não, é alto demais.”
“Você não consegue ficar em pé nem um pouquinho”. (As pessoas adoram perguntar isso pra cadeirante )
“Não”.
“Ah, então deixa pra lá.”
Depois ela pediu pra eu colocar os “zóios” numa espécie de binóculos e dizer umas letrinhas. Errei várias, logicamente porque uso óculos, mas ele sentenciou:
“Sua visão é ótima”!
Agora vem aquela parte, o tcham, tcham, tcham... Se eu tivesse um estilingue na hora, eu faria miséria naquele lugar. Com o resultado do exame na mão, a simpática médica me diz que não estou apto a dirigir , isso com exames totalmente fora de contexto.
“Olha, se você quiser, depois de algum tempo você marca outra perícia para ver seu “progresso”, pagando novas taxas lógico, a gente pode estar “avaliando’ você novamente .”
“Galera”, me senti ofendido demais com aquilo. Acho legítimo cobrar para que a gente tenha a comodidade dos serviços oferecidos, de que alguém tire a documentação pra gente, mas, abusar da condição física dos outros é de chorar pelado. Tenho contatos com alguns amigos de outras cidades e, muito mais comprometidos fisicamente que eu, e que conseguiram tirar sua carteira de motorista. Aparelhos e métodos atualizados, é isso. Naquela local, onde quase não havia cadeira e quem chegava de muleta, de andador tinha de ficar em pé, eles simplesmente se aproveitam da dificuldade de locomoção do povo da Matrix para achacar oferecendo um “serviço”, são os “corretores” de autoescolas.
Em tempo: Tenho outras histórias de gente que queria tirar vantagem da dificuldade de deslocamento das pessoas portadoras de deficiência que conto em outra oportunidade.
Oferecer um serviço de comunidade para quem é deficiente, é legítimo, mas de forma clara e honesta. Tirar vantagem, poderia até ser considerado crime. Se é que já não é, né, não?!

Um conto pessoal baseado no post de Jairo Marques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
Espaço para aqueles que se interessam por questões de igualdade, contrariando os medíocres de julgamento.