Para Mara Gabrilli, recuperação de Luciana, de "Viver a Vida" , deveria ser mais lenta
Depois de 8 anos colaborando como colunista da revista TPM, a vereadora Mara Gabrilli, 41, acaba de lançar o livro Íntima Desordem, uma compilação com 50 textos publicados na revista.
Através do livro, Mara, que em 1994 ficou tetraplégica após um acidente e desde 1997 atua como porta-voz e militante em prol dos direitos dos deficientes através da ONG Próximos
Através do livro, Mara, que em 1994 ficou tetraplégica após um acidente e desde 1997 atua como porta-voz e militante em prol dos direitos dos deficientes através da ONG Próximos
Passos (hoje Instituto Mara Gabrilli), realizou um sonho de infância.
Entre as escolhas que entraram no livro estão Uma cadeirante em Trancoso, Menina no espelho e Meu lado vingativo e canibal, que falam de situações triviais e hilariantes como tomar uma enorme chuva e clamar por um banho de banheira na casa de um ilustre desconhecido; a curiosidade das crianças quando vêem uma cadeirante e como matar um mosquito que pousou em seu peito - com um cuspe.
Confira a entrevista que o Virgula fez com Mara para falar do livro e da personagem vivida por Alinne Moraes, que ficou paraplégica na novela das 8, Viver a Vida.
Virgula: Como foi escolher apenas cinquenta entre tantos textos publicados nestes 8 anos como colaboradora da TPM?Mara: Foi maravilhoso reler tudo e sentir aquelas coisas novamente, lembrei do estado emocional em que me encontrava ao escrever cada um. No caso da escolha dos textos, por mim pegaria só os que eu gostava, mas meu editor acabou escolhendo outras coisas também. Entraram vários que eu não considerava tão importante, mas que ele achou que tinham mais sentimento e expressavam mais a minha personalidade do que os de memórias ou passagens mais descritivas.
V: Como a coluna na TPM ajudou no seu desenvolvimento?MG: Voltei a escrever ali né? Foi uma coisa muito importante para mim, que faço diário desde criança e sempre fui uma escritora compulsiva. Após o acidente eu tinha diminuido bastante o hábito, pois tinha que ditar para alguém ou escrever com a boca, o que provocava fortes dores no pescoço.
V: Como foi descobrir a veia política, após o acidente? MG: Sou presidente de ONG há 12 anos, fazia politica e não sabia. Mas eu não tenho um perfil político tradicional, estou aprendendo. É um meio de continuar fazendo o meu trabalho, pois nunca vi o cargo político como fim e nesse aspecto é uma possibildiade muito grande. E como vereadora é infinitamente maior. Acabei conhecendo as necessidades dos deficientes não só pelo meu caso, mas porque abri as portas para as deficientes em geral, surdos, cegos, etc. 95% dos projetos de lei que escrevi foram a partir de pessoas que me trouxeram essas necessidades.
V: O que você está achando da novela das 8 retratar uma personagem que fica paraplégica? MG: Primeiro tem que dar um trofeu para o Manoel Carlos por abordar esse tema, que abre muitas discussões. Acho que a Alinne está fazendo bem o papel, mas é muito diferente da realidade que eu vivi.
V: Como assim?MG: Ela fez a cirurgia e no dia seguinte estava gritando, brigando. Após uma cirurgia daquelas você fica com a voz fraca por meses. Tudo bem que a lesão dela foi mais leve, na 6ª. e na 7ª. vértebra (a de Mara foi na 4ª. e na 5ª, caso mais delicado), mas mesmo assim a pessoa fica fraca, com a cara super abatida. É um processo muito pesado, que interfere no metabolismo do organismo, mexe com a bexiga, o intestino, os rins. No meu caso, afetou a respiração e só voltei a falar depois de 2 meses, sem a ajuda de aparelhos. Eu falava uma sílaba a cada respirada.
V: Como você acha que o comportamento da mãe da Luciana (Alinne), vivida por Lilia Cabral, interfere na recuperação dela?
MG: Ela atrapalha, usa termos muito fortes, diz que a filha está imprestável. Me incomoda porque existe uma crença de que o deficiente tem que se revoltar e achar um culpado, ficar deprimido. Isso tem que mudar. Óbvio que a vida fica muito mais trabalhosa, não é fácil. Mas também não é a coisa mais horrível do mundo. É lógico que seria melhor se eu estivesse andando, mas os maiores sofrimentos que tive nunca aconteceram por que me tornei tetraplégica. Minha concepção de mundo aumentou. Meu amadurecimento foi muito mais profundo e me trouxe coisas que eu não sei se teria em outra situação. Tenho uma memória melhor e outras habilidades que nem desconfiava possuir.
V: Você tem contato com a equipe da novela?MG: Sim, acabei de dar um depoimento que deve entrar no fim de um dos próximos capítulos. Também mandei um e-mail para a Alinne há um tempo atrás, dividindo minha experiência com ela. Ela foi muito receptiva e disse que após ver minhas fotos (Mara posou para um ensaio sensual na TRIP, em 2000), pediu para o Manoel Carlos dar a Luciana a chance de continuar sendo modelo mesmo após o acidente.
Entre as escolhas que entraram no livro estão Uma cadeirante em Trancoso, Menina no espelho e Meu lado vingativo e canibal, que falam de situações triviais e hilariantes como tomar uma enorme chuva e clamar por um banho de banheira na casa de um ilustre desconhecido; a curiosidade das crianças quando vêem uma cadeirante e como matar um mosquito que pousou em seu peito - com um cuspe.
Confira a entrevista que o Virgula fez com Mara para falar do livro e da personagem vivida por Alinne Moraes, que ficou paraplégica na novela das 8, Viver a Vida.
Virgula: Como foi escolher apenas cinquenta entre tantos textos publicados nestes 8 anos como colaboradora da TPM?Mara: Foi maravilhoso reler tudo e sentir aquelas coisas novamente, lembrei do estado emocional em que me encontrava ao escrever cada um. No caso da escolha dos textos, por mim pegaria só os que eu gostava, mas meu editor acabou escolhendo outras coisas também. Entraram vários que eu não considerava tão importante, mas que ele achou que tinham mais sentimento e expressavam mais a minha personalidade do que os de memórias ou passagens mais descritivas.
V: Como a coluna na TPM ajudou no seu desenvolvimento?MG: Voltei a escrever ali né? Foi uma coisa muito importante para mim, que faço diário desde criança e sempre fui uma escritora compulsiva. Após o acidente eu tinha diminuido bastante o hábito, pois tinha que ditar para alguém ou escrever com a boca, o que provocava fortes dores no pescoço.
V: Como foi descobrir a veia política, após o acidente? MG: Sou presidente de ONG há 12 anos, fazia politica e não sabia. Mas eu não tenho um perfil político tradicional, estou aprendendo. É um meio de continuar fazendo o meu trabalho, pois nunca vi o cargo político como fim e nesse aspecto é uma possibildiade muito grande. E como vereadora é infinitamente maior. Acabei conhecendo as necessidades dos deficientes não só pelo meu caso, mas porque abri as portas para as deficientes em geral, surdos, cegos, etc. 95% dos projetos de lei que escrevi foram a partir de pessoas que me trouxeram essas necessidades.
V: O que você está achando da novela das 8 retratar uma personagem que fica paraplégica? MG: Primeiro tem que dar um trofeu para o Manoel Carlos por abordar esse tema, que abre muitas discussões. Acho que a Alinne está fazendo bem o papel, mas é muito diferente da realidade que eu vivi.
V: Como assim?MG: Ela fez a cirurgia e no dia seguinte estava gritando, brigando. Após uma cirurgia daquelas você fica com a voz fraca por meses. Tudo bem que a lesão dela foi mais leve, na 6ª. e na 7ª. vértebra (a de Mara foi na 4ª. e na 5ª, caso mais delicado), mas mesmo assim a pessoa fica fraca, com a cara super abatida. É um processo muito pesado, que interfere no metabolismo do organismo, mexe com a bexiga, o intestino, os rins. No meu caso, afetou a respiração e só voltei a falar depois de 2 meses, sem a ajuda de aparelhos. Eu falava uma sílaba a cada respirada.
V: Como você acha que o comportamento da mãe da Luciana (Alinne), vivida por Lilia Cabral, interfere na recuperação dela?
MG: Ela atrapalha, usa termos muito fortes, diz que a filha está imprestável. Me incomoda porque existe uma crença de que o deficiente tem que se revoltar e achar um culpado, ficar deprimido. Isso tem que mudar. Óbvio que a vida fica muito mais trabalhosa, não é fácil. Mas também não é a coisa mais horrível do mundo. É lógico que seria melhor se eu estivesse andando, mas os maiores sofrimentos que tive nunca aconteceram por que me tornei tetraplégica. Minha concepção de mundo aumentou. Meu amadurecimento foi muito mais profundo e me trouxe coisas que eu não sei se teria em outra situação. Tenho uma memória melhor e outras habilidades que nem desconfiava possuir.
V: Você tem contato com a equipe da novela?MG: Sim, acabei de dar um depoimento que deve entrar no fim de um dos próximos capítulos. Também mandei um e-mail para a Alinne há um tempo atrás, dividindo minha experiência com ela. Ela foi muito receptiva e disse que após ver minhas fotos (Mara posou para um ensaio sensual na TRIP, em 2000), pediu para o Manoel Carlos dar a Luciana a chance de continuar sendo modelo mesmo após o acidente.
Por Carol Ramos
Publicado em 02/12/2009 05:14:00
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